Equipe Reflexiva

Publicado por em 29/10/2012 no canal ARTIGOS | Comente

Uma prática transdisciplinar possível, onde todos têm voz para compartilhar ressonâncias e acessar múltiplos versos.

por Silvana Cappanari
Psicóloga / Terapeuta e Mediadora

O contexto de uma apresentação, vivencial…

Por ocasião do III Encontro Catalisador do CETRANS, ocorrido na USP, em São Paulo, entre os dias 18 e 21 de maio de 2001, os então 40 membros formadores apresentaram, uns aos outros, seus projetos matriciais. Trabalhos esses que, agora, compõem este livro.

Como parte do projeto “Corpo Processo – a Transdisciplinaridade em Nós”, Marise L. Rayel apresentou “Educação Somática Existencial – o corpo processo” e eu, Silvana Cappanari, apresentei “Equipe Reflexiva – uma prática transdisciplinar para avaliar e ampliar a visão…”.

Levando em conta não só a proposta do nosso trabalho, “Corpo Processo – a Transdisciplinaridade em Nós”, mas o contexto do evento na ocasião e o fato de não ter consultado com antecedência os coordenadores, pedi aos colegas presentes que escolhessem uma entre três possibilidades de apresentação: uma teórica, uma de esclarecimento e uma vivencial. O objetivo desta consulta era ter a adesão da maioria, em qualquer uma delas.

A maioria dos colegas presentes escolheu experimentar uma “Equipe Reflexiva”, um formato proposto por Tom Andersen e muito usado entre os sistêmicos construcionistas sociais.

Uma “Equipe Reflexiva” pode ter muitas utilidades. Ela pode funcionar como um feedback para quem organiza um evento, como um curso, workshop, palestra, congresso, terapia etc. Ela pode ser convocada por alguém que precise ampliar sua visão a respeito de algum tema ou trabalho que está desenvolvendo. E como o titulo diz, ela consiste numa prática transdisciplinar, onde todos os participantes têm voz para compartilhar ressonâncias e acessar múltiplos versos.

Antes mesmo da escolha pelos colegas, havia consultado os técnicos de som e de computação contratados para registrar o evento, sobre a vontade e disponibilidade deles em participar de uma conversa no formato “Equipe Reflexiva”. Neste caso, eles funcionariam como representantes do grupo para quem o trabalho estava sendo apresentado. Três deles aderiram: Bento, Luisão e Isaac (nomes fictícios).

Rapidamente contei aos colegas, que a participação de uma “Equipe Reflexiva”, implicaria no consentimento e na adesão de todos os envolvidos no evento a algumas “regras do jogo”. Essas regras “simples” consistiam em formarmos duas equipes, onde cada uma a seu turno falaria sobre algo, enquanto a outra ouviria sem interromper. Cada equipe teria dez minutos para falar. O processo foi facilitado por mim.

O objetivo de uma “Equipe Reflexiva”, neste formato e com estas regras, é poder receber do público alvo de um determinado evento, uma visão ampla e uma avaliação do mesmo. Em geral a primeira equipe a falar é a que recebeu o trabalho oferecido no evento. A segunda a falar é a que organizou, coordenou e ofereceu o evento. E por fim, a ultima palavra é de quem recebeu o evento.

Seguindo os princípios deste formato, propuz que a primeira equipe a falar fosse a dos técnicos contratados. A segunda, a dos membros formadores que apresentaram seus projetos e a última, a dos técnicos novamente. Por ter tido pouco tempo para preparar e organizar a vivência, tive que ser muito pratica, concisa e acreditar que ela se autojustificaria. Assim aconteceu.

Nos primeiros dez minutos, formei um grupo com os três técnicos e convidei-os a conversarem entre si e comigo, como facilitadora, sobre como foi para eles estar ali conosco naqueles três dias. Convidei-os a comentarem o que quisessem sobre o evento e ou o que viram e ou ouviram ali.

Luisão se disse um evangélico e fez uma longa fala, comparando o que aconteceu naquele evento com os princípios da Bíblia. Nos advertiu ainda, que se estivéssemos de mãos dadas, tudo o que tínhamos falado brotaria…

Isaac se desculpou por “não saber analisar” (sic) como fez seu colega e se confessou preocupado com as próprias questões técnicas que lhe cabiam cuidar. Disse ser muito difícil para ele comentar algo sobre nós.

Bento agradeceu o “privilégio” (sic) de presenciar o intercâmbio de cada palestrante, dentro da sua própria área, sobre a educação neste pais.

Numa segunda rodada, de mais dez minutos, pedi que cada um de nós, membros formadores do CETRANS, falássemos sobre algo “útil” do que havíamos ouvido. Lembrei que, para dar oportunidade a todos, teríamos que ser concisos individualmente.

Transcrevo aqui algumas das falas dos meus colegas formadores: “transferimos a condição de palestrante e cada um tem, assim, a oportunidade de dizer o que sente sobre o trabalho apresentado”; “estava preocupado em como retribuir a qualidade do serviço prestado por eles, de coração”; “bom poder ouvir que somos progressivos e lentos”; “existe uma unidade na diversidade que deixa a riqueza maior e nos unimos quando temos objetivos comuns”; “precisamos ser abertos, circular em outros grupos e receber novas pessoas, para não perder a união”; “eles foram capazes de ver a unidade entre nós e ver, de cada mensagem, a coisa boa que ficou”; “eles já tem uma visão que determina o que viram de transdisciplinaridade em nós”; “estamos criando uma dança”; “a fala técnica deles, do meu ponto de vista, tem a qualidade que queremos, que é fazer algo de gostoso e ouvir a voz do eco”; “o sonho não acabou”…
Na terceira e última rodada, lembrando que a ultima palavra seria a dos três técnicos, pois foram eles que receberam os efeitos do nosso evento, pedi a eles que conversassem sobre o que foi útil e o que não foi útil para eles, do que haviam ouvido dos formadores.
Desta vez, Luisão falou menos, dizendo somente: “me emocionou, transformou”.

Bento comentou que “a maior grandeza do ser humano é a humildade e a transformação” e disse ainda: “parabéns a cada um de vocês, na sua área, levando conhecimento e transformação”.

Isaac, que na primeira rodada se desculpou por não saber analisar, desta vez disse: “Agradeço a você pelo espaço e oportunidade de falar. Nunca ninguém deu espaço para um técnico… e considero humano vocês quererem ouvir nossa opinião. Daqui para a frente, vamos melhorar mais a qualidade… Temos muita opinião para dar e também ouvimos muita coisa construtiva. Esse é o melhor trabalho que fiz este ano, por ter podido falar e gravar e meu patrão poder ouvir também…”

Experimentamos assim como pode funcionar uma “Equipe Reflexiva” para avaliar um evento e ampliar nossas perspectivas a seu respeito.

Assim como as metáforas e as histórias, a “Equipe Reflexiva” permite que cada pessoa se conecte ao que lhe faz sentido.
Ao incluir o outro, no processo, não só ampliamos nossos conhecimentos com os seus múltiplos versos, mas o colocamos como co-responsável na construção de um novo conhecimento.

Outra riqueza deste processo emerge do seu efeito ampliador, multiplicador e recursivo, pois, a partir dos nossos recortes individuais, afetamos outros e somos recursivamente afetados por eles. Trabalhamos no espaço entre as verdades de cada um sem saber aonde vai dar…

Considerações vivenciais e teóricas…

Foi há 25 anos quando, começando a trabalhar com famílias, senti que a psicanálise não satisfazia às questões que se me impunham na clínica; com toda a “angustia do não saber” e o entusiasmo das novas perspectivas, entrei em contato com outro paradigma – o sistêmico. Nessa época, me dando conta da dimensão desta epistemologia e de uma prática correspondente, já vislumbrava os enormes benefícios desta forma de pensar, não só para as questões familiares com suas vicissitudes, mas também para as questões sociais, educacionais, e todas as questões relativas às organizações humanas.

Os sistêmicos, interessados nos sistemas humanos em termos de conexidade, complexidade, relações e contexto, dentre eles, um grupo de cientistas multidisciplinares, iniciaram formalmente suas pesquisas por volta da década de 1940, no Mental Research Institute – MRI – em Palo Alto, nos EUA, pela vertente da comunicação humana. Essa vertente encaminhou esses pesquisadores a pensarem os problemas familiares primeiro, desde uma perspectiva estratégica e, em seguida, desde uma estrutural. Gradualmente estas perspectivas foram sendo incorporadas por outros grupos que também lidavam com sistemas de relações humanas e que foram se aprimorando em perspectivas construtivistas e construcionistas sociais, mais condizentes com o novo paradigma nas ciências, chegando ao rigor de aplicarem às suas pesquisas, uma metodologia de 2ª ordem, onde o profissional se inclui no sistema que está sendo questionado.

O termo “de 2ª ordem” vem da cibernética – disciplina cientifica fundada por Norbert Wiener no final da década de 1940, que surgiu no meio de um questionamento sobre os pilares da tradição científica, como o mecanicismo e o objetivismo. A cibernética emerge como a disciplina da inter e da transdisciplinaridade em resposta ao esforço de vários cientistas, como G. Bateson, N. Wiener, H. von Foerster, J. Piaget e outros de diferentes áreas e países, participantes das Conferencias Macy, nos EUA, sobre mecanismos circulares e de retroalimentação em sistemas sociais e biológicos.

A nova perspectiva teórica considera que todos esses sistemas – das maquinas artificiais aos organismos vivos e aos fenômenos psicológicos e sociais – obedecem a princípios organizacionais ligados à informação. A cibernética de 2ª ordem estimulou o estudo dos sistemas auto-organizadores, ressaltando as noções de autonomia – sistemas regidos pelas próprias leis – e de auto-referência – uma operação lógica por meio da qual uma operação toma a si própria como objeto, como, por exemplo, o fato do ser humano ser consciente de sua própria consciência.

Os sistemas auto-organizadores, como os sistemas biológicos e sociais, são extremamente complexos e continuamente vão combinando desordem e ordem. As mudanças nesses sistemas se dão a partir do funcionamento interno e ou externo, aleatoriamente, e têm destino imprevisível e irreversível. A cibernética de 2ª ordem re-introduz ao campo, temas como o conhecimento, a linguagem, a construção do sentido e da subjetividade, e esse efeito, segundo von Foerster, Bateson, Packman e outros, transformou a cibernética em uma epistemologia ou uma tentativa de responder às perguntas sobre o conhecimento e o conhecedor.

Segundo Edgar Morin (1973), a evolução cientifica contemporânea provoca brechas em cada paradigma isolado, de onde vão emergindo outros domínios e através dos quais se operam novas conexões e emergências teóricas.  Nesse ponto, a idéia de Maturana e de outros, de que a realidade é construída no interjogo de nossa coordenação com os outros e não mais como objetiva, marca o que Bateson chamou de “uma diferença que faz diferença”.

Uma ética que norteia a nossa prática…

No mundo dos “construtivistas” a ética está voltada para a responsabilidade e para a crença no papel da multiplicidade, da singularidade, e no homem, como protagonista do seu próprio destino. Segundo von Foerster (1981), a posição construtivista, contida na cibernética de 2ª ordem, tem como conseqüência, uma atuação sempre voltada para aumentar as alternativas e gerar novas conexões.

Com outros pesquisadores na área de sistemas de relações humanas, compartilhamos uma ética pautada na inclusão de si e do outro, como um legítimo outro; nos processos de transformação e de construção de conhecimento; na complexidade dos sistemas, com suas singularidades; na noção de realidade entre parênteses etc.

Considerar o que vemos e fazemos como um mundo construído com outros, na ação e na linguagem, implica que o ponto de vista do outro seja tão válido quanto o nosso, embora possa nos parecer menos confortável. Isso, por sua vez, implica na legitimação da existência do outro e na responsabilidade pelo agir e interatuar com ele, além de termos que levar em conta o contexto da relação e a visão de mundo de cada um.

Um recorte de uma historia em contexto…

É no “espírito” desta epistemologia que Tom Andersen, psiquiatra e professor, juntamente com um grupo de profissionais da área da saúde, em Tromso, na Noruega, vem desenvolvendo formas de operar com sistemas humanos bloqueados em seu momento evolutivo. A esse formato ele deu o nome de “Equipe Reflexiva”, onde são estimulados diálogos e meta-diálogos, ou “diálogos sobre diálogos”.

Em 1985, nessa mesma cidade, com suas peculiaridades geográficas e culturais, num contexto especifico de aprendizagem em saúde mental onde se privilegiava o conhecimento via leitura e observação do trabalho de outros, é que Tom Andersen e sua equipe observaram, atrás de um espelho unidirecional, a dificuldade de um jovem médico da equipe em lidar com uma família. Por ser já esperada uma intervenção da equipe, esta resolveu perguntar para a própria família se gostaria de ouvi-la, por um momento, sobre algumas idéias. Para que médico e família pudessem observar as pessoas da equipe conversando, as luzes e o som na sala onde se encontravam seriam diminuídos, e aumentados na sala da equipe. A família concordou, dando à equipe uma chance de poder fazer algo por eles. A família, depois de excitada com aquela novidade, fez um longo silêncio no final e, em seguida, começou a conversar numa relação diferente da habitual dela. Tom conta que, naquele momento, experimentaram o significado da famosa frase de Bateson: “A diferença que faz diferença”.

“Equipe Reflexiva” surgiu a partir de sucessivos processos reflexivos entre eles, e entre eles e seus clientes, e de sucessivos questionamentos sobre seus conceitos básicos e sobre como transformar esses conceitos em prática. Ao ir “coletando peças durante a própria caminhada” e ir se dando conta do estimulo e da transformação que isso propiciava, foram buscando um modo de operar com famílias, mais compatível com o próprio modo de pensar. Ao longo desse processo de reflexões e experimentações, Tom Andersen foi desenvolvendo a conceituação e a prática, influenciado por algumas preferências e posturas que iam confirmando-as recursivamente.
Algumas implicações…

O formato de Equipe Reflexiva pressupõe a concordância de todos os seus participantes sobre suas responsabilidades e em acatar as regras de funcionamento. Esse formato implica em algumas questões, tais como a própria disponibilidade de se sentir observado enquanto observa, se questionar sobre suas responsabilidades, preservar as diferenças aceitando os multiversos sobre os fatos, conseguir identificar e pontuar as conotações positivas do contexto, compartilhar o processo de uma estrutura hierárquica mais horizontal etc.

A Equipe Reflexiva pressupõe conversas onde cada pessoa envolvida participa de um dialogo interno e um externo simultaneamente, e onde diferentes sistemas de significado co-existem numa mesma organização.

Meus norteadores…

Pelos benefícios dessa forma de operar em grupos e pela plasticidade desse processo, outros usos lhe foram sendo dados, como, por exemplo, avaliar processos educacionais, implantar culturas de mediação em escolas e empresas, envolver pessoas de forma responsável na formação de organizações etc.

Já tendo contado, em outras ocasiões, inclusive para o grupo do próprio CETRANS, sobre minha história e o entrelaçamento desta com minha postura ideológica e minhas escolhas profissionais, e agora, um pouco das influências recebidas por estes pensadores e cientistas, acho que posso repetir algumas reflexões que têm norteado meu caminho de busca de possibilidades de uma educação pautada na construção, mais que na instrução. Penso que qualquer projeto que vise o desenvolvimento sustentável da sociedade e do ser humano, deva incluir sistemas que gerem continuas reflexões compartilhadas. Afinal, acredito que a produção de conhecimento se dá em contexto, de forma encarnada e compartilhada.

O desafio das abordagens de 2ª ordem é estimular e gerar sistemas multiplicadores de construção de interação, encaminhando o ser humano para uma cultura da inclusão, da com-versa e da paz. Nesse sentido, algumas disciplinas, como por exemplo, a cibernética e a mediação, funcionam como meta disciplinas, à medida que facilitam a transdisciplinaridade.

Por que penso os processos reflexivos como uma possibilidade transdisciplinar?
Por vislumbrar uma educação onde:
• em conversa – com diferentes versos – poderíamos nos incluir e incluir os outros;
• a construção do conhecimento se daria na interface entre os processos pessoais e os alheios, entre a auto e a hetero-formação;
• no exercício da auto-referência se verificaria permanentemente a pertinência e viabilidade das construções geradas no contexto em questão;
• o não saber passaria a ser um estado de base que geraria mais curiosidade que busca de certezas;
• a preocupação maior seria gerar contextos que propiciassem a multivisão e valorizassem o multiverso como atitudes.

Acredito que esse modo de pensar e uma prática compatível desembocariam na possibilidade de uma educação pautada no princípio de inclusão de nós e dos outros, preocupada em desenvolver processos estimuladores de conversas geradoras de reflexões que, por sua vez, facilitassem o já tão citado “conhecimento encarnado” em trocas continuas.

Algumas inquietações…
• Como aproveitar o nosso gigantesco potencial humano para gerar sistemas de construção de conhecimento?
• Como implantar e/ou incrementar sistemas de relações que estimulem as pessoas a ter voz e responsabilidade?
• Como desenvolver projetos onde a autoria e a responsabilidade dos processos sejam compartilhadas?
• Como estimular atitudes transdisciplinares?
• Como estimular ações que contemplem os três pilares da transdisciplinaridade, a saber: os diferentes níveis de realidade, a complexidade e o terceiro incluído?
• Como operar em ambientes estranhos às nossas crenças e valores?

Dentro da minha maneira de pensar uma educação para o desenvolvimento sustentável do homem, e na tentativa de encontrar respostas, vou inevitavelmente fazendo mais e mais perguntas, mesmo sabendo que elas em si não são necessariamente reflexivas, mas que a relação que as inclui é que proporciona espaço para a reflexão.

Não é fácil esta empreitada de gerar atitudes transdisciplinares na medida em que saímos da perspectiva de saber como poder, para a de um conhecimento construído a partir do conjunto desses vários saberes e da minha relação comigo e com o outro.

Quem sabe…?

Falo do desejo de orientarmo-nos por determinados parâmetros…

Ao nos orientarmos pelas possibilidades dadas numa construção conjunta, estimularíamos o cuidado responsável de nossas escolhas. Nossos atos são frutos de escolhas, no terreno da incerteza e da constante mudança, como uma atualização contínua de nossos processos. Esta é só uma versão possível sobre o contexto em questão.

Abrir espaços para reflexão e ampliar alternativas são possibilidades. Será na troca com vocês que saberemos se isso nos guiará a uma experiência.

Quando abrimos várias perspectivas, damos mais possibilidades para que cada um se inclua por um ponto com o qual tenha ressonância.

A preocupação em experimentar ferramentas forjadas para ampliar as perspectivas em relação a um evento ou uma troca, implica no cuidado ao criarmos contextos colaborativos que facilitem as com-versas.

Esta proposta de formato em “Equipe Reflexiva” é distante de uma proposta intelectual. Envolve outras formas de acesso ao conhecimento. Implica numa mudança de atitude, mais atrelada ao conhecimento de si e às formas de compor com outros conhecimentos e pessoas, nos mais diversos contextos.

Outras questões…
• Como desenvolver um registro de uma produção grupal que inclua as diferentes perspectivas dos participantes?
• Como desenvolver um registro de uma produção grupal que seja fiel a multiplicidade de versões?
• Como criar uma nova linguagem buscando termos que dêem conta de descrever os processos?
• Como trabalhar na complexidade, respeitando as singularidades?
• Como incrementar formas de conhecer “como penso o que penso”?
• Como incrementar formas de conhecer “como faço o que faço”?
• Como legitimar e incluir a epistemologia de cada participante no processo coletivo?
• Como validar o processo do outro se não apreendermos formas de validar o nosso?
• Quiçá tenhamos, em outro momento, a oportunidade de conversarmos sobre cartografias?

Tendo tido a oportunidade e o privilégio de experimentar os resultados desta forma de trabalhar com o próprio Tom Andersen e com outros que compartilham essa epistemologia e essa prática, venho colhendo frutos, não só no meu processo pessoal, como nos trabalhos com famílias, empresários, educadores na área de saúde e outros grupos preocupados com os resultados do seu modo de funcionar.

No formato em “Equipe Reflexiva”, conversas sobre conversas é que constituem a mudança e meta comunicam um jeito de compor com os múltiplos versos no nosso fazer cotidiano. Pelos pressupostos básicos deste trabalho, ele só faz sentido, e é possível, com o consentimento das pessoas que, depois de informadas sobre o seu funcionamento, queiram experimentá-lo. Espero que seja o caso de vocês…

Referências Bibliográficas
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FOERSTER, Heinz von. Las Semillas de la Cibernetica; Obras escogidas. España: Gedisa Editorial, 1991.
GERGEN, Kenneth J.. El Yo Saturado, Dilemas de Identidad en el Mundo Contemporáneo. Barcelona/Buenos Aires/Mexico: Paidos Contextos, 1992.
MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco. De Máquinas y Seres Vivos, Autopoiesis: La Organización de lo Vivo. Chile: Editorial Universitaria, 1995.
RAPIZO, Rosana. Terapia Sistêmica de Família, da Instrução à Construção. Rio de Janeiro: Instituto Noos, 1998.
SCHNITMAN, Dora Fried (organizadora). Nuevos Paradigmas, Cultura y Subjetividad. Buenos Aires: Paidos, 1994.
SCHNITMAN, Dora Fried e LITTLEJOHN, Stephen. Novos Paradigmas em Mediação. Porto Alegre: Artemed, 1999.
VASCONCELOS, Maria José Esteves de. Pensamento Sistêmico, o Novo Paradigma da Ciência. Ed. Papirus: PUC Minas, 2002.

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